Cristal: Perdão
Dedicado à Autora Filipa Sáaraga
Perto da última etapa da sua demanda, a nossa jovem Princesa vai aceitar libertar-se dos sentimentos de culpa, tenazes que aprisionaram muito tempo o acesso ao seu íntimo.
Pela mão da pequena Mestra, vai aprender que não podemos agradar a todos; que até bastam as diferenças de temperamento para provocar fricções desagradáveis no convívio. Por contraste, torna-se essencial a auto-aceitação, considerando com simplicidade a retidão das nossas intenções e o esforço por darmos o nosso melhor.
Quanto às relações que falharam no passado, tal como palavras ditas irreflectidamente ou atitudes intempestivas, elas não devem alimentar um perpétuo remorso. O arrependimento atrai o perdão – se não dos outros, ao menos o próprio e, certamente, o de Deus.
As mágoas de amor são feridas profundas que existiam muito antes dos relacionamentos que se vieram a tornar vitais para nós. Elas próprias assomaram à superfície, atraídas pela força curativa dessas relações de eleição; nestas chegamos a investir, talvez insensatamente, todo o sentido que antes reconhecíamos à vida. Na raiz de todas as provas persiste uma “ausência de si próprio” que é preciso aprender a acolher.
A partir de agora, as preocupações que voltam sempre sobre o passado doloroso vão revelar à Princesa o seu caráter vão e deixar de tolher o ímpeto do seu afeto para o futuro, a sua afinada intuição para um bem sempre maior.
Com o perdão vivificante, reflui a vaga do ressentimento e ficam a descoberto, nos sulcos do sofrimento, preciosas lições de vida que podemos transmitir aos outros.
A pequenina Mestra entrega então à Princesa um critério para discernir se o perdão está operante na sua história tão provada, apesar de tão jovem: ao recordar uma situação em que nós próprios recebemos o perdão, podemos constatar como este dom nos tornou melhores; assim o perdão entra no rol de todos os dons que podemos oferecer aos outros, sendo porventura o único que mais infalivelmente traz uma superabundância de Paz.
Por fim, será uma vítima singular, que encarna a máxima dor que possa ser infligida, a sossegar definitivamente a Princesa sobre as condições e as possibilidades infinitas do Perdão.