Ajudando os Alunos a Identificar os seus Valores – III

Imagem: Oficina de Escrita

This Article is the translation, with the kind permission of the author, Maurice J. Eliasof the post Helping your Students Identify Their Values     that has been published in Edutopiathe third July 2017. Due to its extension, here is the third and final part.

Este artigo é a tradução, amavelmente autorizada pelo autor, Maurice J. Eliasdo artigo publicado em Edutopia a 3 de Julho de 2017. Devido à sua extensão, aqui fica a III e última parte.

 

Um aluno, ao escrever sobre como ele e os seus irmãos estavam em vias de ser retirados de casa pelos serviços de proteção á infância após a sua mãe ter sido presa, descreveu como um amigo da mãe, que eles nunca tinham chegado a conhecer, lutou por conseguir a sua custódia, quando nenhum membro da família apareceu. A sua regra de vida tornou-se a importância de dar amor mesmo a pessoas que não conhece.

Outro aluno escreveu, “penso que amar os outros é o mais importante. Uma pessoa precisa de ter amor na sua vida. O Amor faz com que a pessoa sinta que tem importância.”

Eis um excerto de uma reflexão de um aluno do oitavo ano sobre a perseverança:

A chave do sucesso na minha vida é a perseverança. O meu fim último é continuar a alcançar os meus objetivos, apesar das dificuldades que possa ter de enfrentar. A minha bisavó foi uma pessoa que lutou para garantir que a sua família fosse bem sucedida. Nascida em 1902, era uma empregada de limpezas que trabalhou arduamente só para conseguir sobreviver. Andava quilómetros a pé para chegar ao trabalho, porque não tinha dinheiro para os transportes. Depois de trabalhar na cozinha de alguém o dia inteiro, voltava a casa e ainda lavava roupa para fora. O seu desejo orientador de tornar sempre melhor a vida dos seus filhos e netos motivou-a a perseverar numa época em que ser negro significava ser considerado menos do que nada. (Extraído de Urban Dreams: Stories of Hope, Resilience, and Character.)

Da Reflexão à Aplicação

Peçam aos alunos, na abertura do ano letivo, para se comprometerem a viver segundo os seus princípios ou regras desde o início. Ao longo do ano, podem convidá-los a refletir sobre o que escreveram e a que se comprometeram, a verificar com os colegas como é que eles estão a consegui-lo e a rever as suas próprias leis, se necessário.

Acerca do AUTOR

  • Maurice J. Elias of Psychology, Director, Rutgers Social-Emotional and Character Development Lab (www.secdlab.org), Director, the Collaborative Center for Community-Based Research and Service (engage.rutgers.edu)@SELinSchools

 

Ajudando os Alunos a Identificar os seus Valores – II

Imagem: Oficina de Escrita

This Article is the translation, with the kind permission of the author, Maurice J. Eliasof the post Helping your Students Identify Their Values     that has been published in Edutopia, the third July 2017. Due to its extension, here is the second part.

Este artigo é a tradução, amavelmente autorizada pelo autor, Maurice J. Eliasdo artigo publicado em Edutopia a 3 de Julho de 2017. Devido à sua extensão, aqui fica a II parte.

Para Desenvolver:

Pode achar útil pedir a cada aluno que escreva as suas próprias respostas a algumas das questões motivadoras, em primeiro lugar; em seguida, pode pedir aos alunos para partilharem essas respostas a pares, depois com uma parte da turma ou mesmo em grupo-turma.   

Os professores devem acompanhar a partilha dos alunos com perguntas para ajudá-los a pensar mais profundamente sobre as suas respostas. Por exemplo,

  • O que torna estas qualidades merecedoras de admiração e de seguimento?
  • Como é que escolheste este ou aquele incidente, exemplo ou pessoa?
  • Por que motivo estas qualidades ou valores são tão importantes para ti?

Elaboração de um Texto Reflexivo

Depois de os alunos terem tido uma oportunidade de pensar sobre e de discutir as respostas às questões, estarão prontos para começar a escrever. Um texto reflexivo deste género pode estar relacionado, no seu formato, com os critérios e objetivos adequados ao ano de escolaridade dos alunos. Eles devem receber instrução para refletir sobre o ano letivo transacto, tanto dentro como fora da escola, e escrever sobre o que eles consideram serem os valores ou princípios pelos quais querem pautar as suas vidas e porquê.

No meu trabalho com professores que orientaram alunos ao longo desta tarefa, os textos resultantes foram comovedores, reveladores e inspiradores. Muitas vezes, os alunos contaram histórias sobre membros da sua família e acontecimentos que foram importantes nas suas vidas. Trataran temas como o amor, responsabilidade, respeito, relacão humana, perseverança, auto-disciplina, coragem, honestidade e gentileza – muitas vezes combinados entre si.

(Continua)

 Sobre o Autor: Maurice J. EliasProf. of Psychology, Director, Rutgers Social-Emotional and Character Development Lab (www.secdlab.org), Director, the Collaborative Center for Community-Based Research and Service (engage.rutgers.edu)@SELinSchools

Ajudando os  Alunos a Identificar os seus Valores – I

Imagem: Oficina de Escrita

This Article is the translation, with the kind permission of the author, Maurice J. Elias, of the post Helping your Students Identify Their Values     that has been published in Edutopia, the third July 2017. Due to its extension, it will be published in three parts.

Este artigo é a tradução, amavelmente autorizada pelo autorMaurice J. Elias, do artigo publicado em Edutopia a 3 de Julho de 2017. Devido à sua extensão, será publicado em 3 partes.

I

Convide os seus alunos a escrever sobre os princípios orientadores segundo os quais eles querem viver, usando estes tópicos motivadores para os ajudar a começar.

By Maurice J. Elias

     O início do ano escolar é uma ocasião propícia para pedir aos alunos que reflitam sobre aquilo que traz um sentido orientador às suas vidas. E colocar por escrito os seus princípios orientadores de vida é uma tarefa perfeita para esta reflexão.

Os professores de alunos a partir do 5º ano podem pedir-lhes que descrevam os princípios segundo os quais desejam viver as suas vidas. Para os ajudar a sintonizar a ideia, podem conversar sobre biografias que eles tenham lido ou visto em filmes (Também podem ver juntos extratos de vídeos ou lerem juntos excertos de livros); depois organizem um diálogo ou enumerem um resumo das regras pelas quais essas pessoas parecem ter pautado as suas vidas. Também podem colocar aos alunos a mesma questão sobre personagens de romances, adultos presentes nas suas vidas ou figuras históricas.

   Para Começar:

Algumas questões motivadoras podem ajudar os alunos a começar a pensar mais profundamente sobre os seus próprios valores ou princípios.

  • Quem admiras? Enumera três qualidades admiráveis dessa pessoa.
  • Descreve um incidente ou um evento em que tenhas aprendido uma lição da forma mais dura.
  • O que poderias mudar em ti próprio para te tornares uma pessoa melhor?
  • Quais são as três qualidades que valorizas num amigo? Num Professor? No Pai ou na Mãe?
  • Quem foi mais importante na tua vida em ajudar-te a estabelecer os teus valores? Por favor explica.
  • Quais são os três valores mais importantes que pensas serem essenciais para encorajar os teus próprios filhos, um dia mais tarde?
  • Qual é a regra única que tu crês ser a essencial para orientar a tua vida?
  • Se nós vivêssemos num mundo perfeito, como é que as pessoas poderiam proceder de forma diferente do que fazem agora?

(Continua)

     Sobre o Autor: Maurice J. EliasProf. of Psychology, Director, Rutgers Social-Emotional and Character Development Lab (www.secdlab.org), Director, the Collaborative Center for Community-Based Research and Service (engage.rutgers.edu)@SELinSchools

Arte da Relação

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Alex Naanou via Compfight   

     Nós refletimos sobre os nossos objetivos e ao mesmo tempo observamos o mundo. Por exemplo, para este segundo trimestre, desejo subir a nota de Inglês, mas, ao mesmo tempo, estou atenta à amizade, á vida: os ensaios para a peça de teatro, os ensaios da dança para o desfile de Carnaval, a festa dos meus anos.

    A ansiedade leva-nos a aguentar não falar. Por exemplo, perante uma situação em que há um olhar contrariado, podes aguardar em silêncio que a pessoa fale, mesmo se tiveres medo do que ela possa dizer.

    Uma pessoa sozinha começa por observar as suas companheiras. Quando alguém vem falar com essa pessoa, descobre o seu interior, a verdadeira personalidade que, ao estar tímida, sem falar, não se revelava. Quando já há mais confiança, a amiga que se adiantou vai levar a nova amiga às outras, e formam um grupo.

     Uma pessoa é tua amiga, mas não se torna a tua dona.

     Tu vives segundo o teu coração, tu é que escolhes o teu futuro.

Sofia L

(Reflexão Inspirada emEnergias e Relações para Crescer– Ecologia Emocional de Mercè Conangla e Jaume Soler)

“Alquimias” do Tempo

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Imagem da Oficina de Escrita

     Ao longo do percurso de cada ano escolar, cada estudante aprende a evoluir num quadro de vida que lhe cinge a liberdade, podendo dar a impressão de a espartilhar, tal é a  pluralidade de tempos   a cujos ritmos diferentes deve atender.

    O próprio horário escolar cobre as horas nobres do dia pressupondo, em toda a sua extensão, o compromisso pessoal do aluno.  

     O horário de estudo personalizado deve integrar as atividades favoritas – desportivas, artísticas ou lúdicas – a fim de libertar finalmente o tempo livre para o imprescindível trabalho pessoal que é  o corpo a corpo do próprio estudante com a inumerável variedade de assuntos transmitidos durante as aulas.

    A médio prazo, deve ainda estruturar o percurso de cada trimestre mediante um calendário de testes, balizando as etapas preparatórias que implantam novos territórios de trabalho nos dias previstos para revisão e treino.

    Todo este mapeamento do tempo cronológico é traçado em função de atividades invisíveis, cuja encarnação na realidade do vivido não é equiparável à realização de tarefas automatizadas. Estas, precisamente por permanecerem exteriores a nós,  não superam a imediatez do fluxo sucessivo dos momentos.  

     É o próprio ato de compromisso pessoal que introduz a possibilidade de uma mediação: por ele, o jogo das faculdades – imaginação, inteligência e memória – põe-se em movimento.  

    A atividade das faculdades opera no invisível a sua “alquimia” do tempo: transmuta-se a qualidade de perpétuo fluxo de instantes numa duração concentrada. O silêncio livre em que se compreende e memoriza gera vida.    

O. E.

Um Segredo do Ano que Vem

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Imagem da Oficina de Escrita

     Somos feitos daqueles que amamos e de nada mais.

Christian Bobin

     O novo Ano Letivo ainda está em formação, na espessura nutritiva que lhe advém da expectativa positiva dos estudantes e da solicitude motivada dos que se antecipam a preparar-lhe um espaço humanizante.

    Mas esse futuro misterioso que mal se adivinhava, já se fez próximo, e nele, o ano infante já toma vulto;  os professores já  receberam a primeira chamada: a carta de motivação, o calendário da primeira quinzena de Setembro e o programa festivo do primeiro dia de convívio na Quinta do Castelo.

    O reencontro dos docentes começa por uma festa; assim como o dos estudantes, duas semanas depois: festas-convívio, familiares, ao sabor do improviso, que se repetem ao final, numa girândola de despedidas. Coroa o ano letivo a Festa da Comunidade, já elaborada, fruto de longo esforço comum, entrelaçada com objetivos de solidariedade.

     Será uma coincidência se estes dois pólos que balizam o ano letivo bem como o ponto alto que o celebra se expressam em Festas? Ou elas pretendem simbolizar algo de muito discreto mas essencial, algo  que constituiria o núcleo ardente e inadvertido do ano letivo?

       Como se o longo percurso ascendente do esforço escolar, atravessado de combates com suas vitórias e dificuldades, fosse todo ele sustentado passo a passo pela presença discreta de uma alegria inexplicável, que para além do desejado e merecido sucesso de cada um, vive da  comunhão entre todos.

    Assim, o coração secreto dos dias letivos, poderia ser a presença oculta deste  júbilo, “mais íntimo a nós que nós próprios” e que interiormente “leveda toda a massa” do trabalho quotidiano.

O.E.

Onde Germinam Questões?

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“Noite Estrelada” de Van Gohg –  Pintura de Ana Clara R Gentileza da Autora

  “É preciso ajudar a razão a recuperar as terras de onde se retirou.”

Rémi Brague

      A Escola em si, como entidade abstrata, e tal como está concebida, pretende contribuir, em favor de cada aluno, para  a emergência da sua individuação : uma vontade pessoal autodeterminada, um pensamento próprio que discerniu e fez seus os valores essenciais deveriam emergir, após o esforçado avanço ao  longo do trajeto balizado de saberes que é o Ensino Obrigatório.

      O estudo de assuntos maioritariamente técnicos, abordados numa perspetiva de rigor científico não é ele próprio apenas técnico, nem redutível a uma objetividade pura.

     Tomar consciência do modo como aprendemos pode tornar-nos sensíveis ao facto de que a inteligência pode ter outro alcance para além daquele a que o conhecimento racional e a ordenação da experiência sensível obrigam.

     A reflexão sobre a experiência interior – que as  exigências do estudo criam –  desvenda, porventura, outros âmbitos  do exercício da inteligência onde as questões de fundo, as questões que perguntam pelo sentido encontram a amplidão de que precisam para se articularem.

     A reflexão escrita capta as linhas de força do vivido e nisto   sempre foi uma poderosa ferramenta de libertação.

      Mas ela é mais do que isso: permite construir positivamente a partir de uma esperança comum a todos, que diz respeito a todos e que tende a ultrapassar-se para além de tudo.

     As questões que perguntam pelo sentido último do nosso estudar, do nosso ser em comum, do nosso estar aqui, são perguntas vivas, que cada nova geração coloca de novo, de raiz, com todo o seu ser.

    À Escola compete contribuir, também, para que, num meio vital adequado, possam germinar os ingredientes daquilo que é mais profundamente humano.

O.E.

“Diários de Aprendizagem”, Joias do Tempo de Escola

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Imagem da Oficina de Escrita

“Refletir é escutar mais alto”

Jean Rostand

      Ao longo do seu itinerário escolar, os nossos estudantes    estão continuamente imersos num meio vital de aprendizagem. São igualmente convidados a participar ativamente na sua própria formação  pela apropriação dos meios que  permitem gerir e modelar o processo da sua  aprendizagem.

     Nos “Diários de Aprendizagem”, tal como os propõe a professora Sheila Cameron,  captura-se  a reflexão pessoal sobre experiências relevantes para o estudo.

     Assim, por exemplo, um estudante pode “tomar o pulso” do seu desempenho relativamente a   uma sequência de aulas, a um trabalho de grupo ou a um método de estudo, aplicando-lhes este breve questionário de reflexão transcrito do  MBA Hand Book (1): 

  1.  Como correu?
  2. O que senti em relação a esta experiência?
  3. O que aprendi com ela?
  4. O que não consegui aprender?
  5. O que poderia ter tornado esta aprendizagem mais eficiente?
  6. O que vou fazer de diferente, no futuro, para aprender melhor?

     Praticar regularmente esta abordagem crítica abre uma  distância objetiva entre nós e o nosso trabalho, que deixa à vista o modo como ele decorre, permitindo corrigi-lo ou melhorá-lo.

    É ainda graças ao distanciamento que as perguntas operam, que se abre  um espaço livre onde podem tomar forma ideias sugestivas e até aí insuspeitadas. 

O. E.

(1) Este livro excelente está atualmente oferecido em livre download, em pdf.

“Diário de Recortes”, Pérola das Férias

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Imagem da Oficina de Escrita

     Alguns alunos têm vindo a construir, ao longo das férias, os seus “Diários de Recortes”, colecionando pequenas recordações significativas de episódios favoritos que estão a viver.

     Num caderno ou bloco, a intervalos regulares, colam imagens recortadas, fotografias, pedaços de papel, acompanhados de desenhos e breves comentários pessoais sobre locais que apreciaram ou momentos vividos que lhes merecem um registo criativo.  

     Assim os nossos jovens autores prestam uma homenagem singela a momentos especiais de felicidade, envolvendo-se na aventura exclusivamente humana de fazer emergir sentido novo.

     O caráter precioso daquilo que foi vivenciado positivamente emerge na consciência com outra intensidade.

     A natureza única e irrepetível do que aconteceu, ao transmutar-se no cadinho das palavras, fica protegida da sucessão irreparável dos momentos em que o vivido continuamente se desvanece.

     A possibilidade de recordar e de partilhar, assim instaurada pela forma em que a escrita plasma a vida, amplia o horizonte da consciência, torna sensível o mistério do próprio existir e contribui para gerar uma atitude habitual de gratidão.

O.E.

Inquérito Apreciativo: “de Bem a Melhor”

maos_mini5A     O Inquérito Apreciativo constitui uma abordagem de questionamento, aplicável          numa grande diversidade de contextos, que não modela a inteligência para a resolução  de problemas, mas antes a orienta para considerar o que funciona bem, o que decorre  positivamente, o que se torna gratificante.

     Pode ajudar-nos a discernir, num processo de aprendizagem, numa vivência pessoal  ou de grupo, ou numa experiência mais objetiva, quais são os pontos fortes, como  desenvolvê-los na situação presente, como transpô-los para situações futuras.

     Cada estudante é portador de um universo de vivências pessoais e de conhecimento  experimental do mundo que permanece submerso enquanto não for solicitado. O teor  das questões que os ajudamos a formular para decifrar esse mundo imanente é determinante para o processo em que  novos sentidos podem emergir. 

     A intuição prolixa, confusa, matéria-prima de vida em estado puro, ainda não  articulada, pode encontrar a sua estrutura interna, mediante o lançamento de  perguntas adequadas, outras tantas sondas lançadas no abismo do vivido, para o  transpor a salvo, à superfície, na expressão cristalina de uma escrita pessoal.

    E assim como, na ciência contemporânea, se reconhece que   o instrumento de observação modifica o objeto observado, assim o facto de utilizarmos perguntas  poderosas, que visam o lastro positivo do vivido e nos focam nos aspetos motivadores das nossas  experiências vai ajudar-nos a gerar uma atitude confiante face ao futuro, a conceber a realidade de  forma generosa, onde o gume dos desafios se torna estimulante e  inspira gratidão.

 (Imagem da Oficina de Escrita) O.E.

“…Mais Dilatados Horizontes”

Beach in Kenosha w/ Hot Sunrise

Carl Vizzone via Compfight

Os Céus acima de mim são tão vastos como os Céus dentro de mim.

 Etty Hillesum

     Quando o esforço reflexivo incide sobre a própria vivência não  pretende  favorecer o enclausuramento  de um “eu” voltado sobre si próprio nem o estreitamento do poder de alcance da sua ação no mundo.

     Pelo contrário, esta indagação crítica que sonda a imediatez do vivido  visa libertar uma interioridade  mais genuína, que permanece inacessível sob o vaivém dos afazeres mecanizados e a natureza meramente funcional de contactos que mal afloram o humano.

   O discernimento pessoal que se exerce sobre o nosso agir e pensar opera precisamente um descentramento do “eu” de superfície, uma renovação do seu poder relacional, uma ampliação do horizonte que transcende o arco do quotidiano.

   Celebrámos ontem a memória de Edith Stein, filósofa judia e mística cristã, que iniciou gerações de alunas na arte rigorosa da reflexão; da serenidade da sua escrita luminosa hauriu a força de auto-doação com que assumiu a sua morte em Auschwitz.

    Ela própria encontrou os caminhos do cristianismo a partir da leitura da autobiografia de Teresa de Ávila,  doutora da Igreja, que, para além de traçar um mapa inédito da interioridade humana, palmilhou a Espanha no aventuroso empreendimento das suas 17 fundações.

O. E.

Para uma Sementeira de Perguntas

estudoImagem da Oficina de Escrita     

«A palavra é mais real e mais durável que o mundo material na sua totalidade.»

J. Ratzinguer

     Para além de alguns nomes já citados, toda uma constelação de autores nos encoraja a prosseguir neste treino de uma incipiente reflexão: insistindo em retomar instruções preliminares, aplicando conselhos experimentados, acabamos por dar uma forma pessoal às perguntas que nos levam a refletir mais do que  a descrever ou a relatar.

     Esta paciência em  exercício ao longo do tempo acaba por compensar:

  • podemos então, dilucidando fios de pensamento que trazíamos emaranhados, ponderar  as nossas perspetivas sobre a vida;
  • articulando intuições quase impercetíveis, podemos descobrir não só o que realmente queremos como ainda os modos de alcançá-lo;
  • podemos assim configurar novos projetos de vida, subdivididos em pequenas etapas, que os tornam exequíveis e nos livram da ansiedade.

       Estas nossas perguntas abrem sobre um manancial só em aparência indisponível; são uma espécie de “chave” para o “lado desconhecido” do real. Podem tornar-se, para os nossos jovens estudantes, numa via de acesso à inesgotável riqueza que os habita; neste caso, “ter acesso” significa “tornar-se mais livre”, o que sempre se resolve em “estar ao serviço de…”

O.E.

Praticar Escritas Diferentes

     DSCF1391

Imagem da Oficina de Escrita

“Escrever e desenhar são idênticos, no fundo.”

Paul Klee

     No próximo ano letivo, a Oficina de Escrita vai voltar a colaborar com o Projeto dos Diários Gráficos, que surgiu há quatro anos, com professores incansáveis de Educação Visual. Trata-se também de incentivar os alunos a praticarem uma escrita de expressão mais pessoal em simultâneo com a sua prática do desenho à vista ou da pintura. O Projeto oferece-nos, assim, uma oportunidade singular de podermos diversificar finalidades, estilos e suportes de escrita. 

     Alguns estudantes poderão sentir-se encorajados a usar o seu Diário Gráfico também como um caderno intimista; outros vão preferir utilizar, em anexo, um pequeno bloco para a captação rápida de ideias imponderáveis, rede de borboletas para a inspiração volátil; talvez ainda um caderno subalterno para um longo e regular desabafo catártico, onde se executa a “limpeza doméstica cognitiva”- trabalho que pode parecer entediante, mas incontornável para se abrirem dimensões inéditas no espaço familiar – como numa tela de Vieira da Silva – a fim de permitir o acesso a camadas mais profundas.

      E depois, também, porque não enriquecer o Diário Gráfico, recorrendo ao “tear” dos questionários de reflexão – onde o segredo reside em entretecermos as respostas na trama das perguntas que nós próprios criamos; aí se pode saudar o vivido, assinalar a presença de toalhas subterrâneas de sentido que nos trabalham no invisível; surpreender o inesgotável manancial da realidade emergindo para a sua expressão, numa escrita que é, antes de mais, aplicação apaixonada desses outros sentidos à manifestação da totalidade em ínfimo fragmento.

     E certamente, alguns estudantes optarão ainda por manter vivo um caderno, tão secreto quanto predileto, para falar com quem se ama e que connosco responde e se corresponde na linguagem mais excessiva, e por isso adequada e recomendável para arriscar-se a dizer o inexcedível que a inflama.

OE

“Escrever Objetivos com Clareza”

As pessoas que têm objetivos escritos com clareza realizam muito mais e num período de tempo mais curto do que  podem imaginar as pessoas que os não têm..

recado_5A_miniBrian Tracy

     O objetivo, aqui, é transmitir precisamente isto: que os nossos  jovens estudantes possam configurar os seus objetivos com  clareza, descobrindo, ao mesmo tempo, o extraordinário poder  libertador de energias para os realizar que se exerce ao escrevê-  los.

     Só por experiência se pode verificar que o hábito de escrever  esclarece, desagrega barreiras, abre novas possibilidades, faz  brilhar, à nossa frente, as pistas frescas do sentido; escrever  sonda o futuro, é um “ascultador de Deus”.

     O que pode induzir os nossos estudantes a escrever?

     As perguntas abertas: uma pergunta bem medida, bem pesada, com a dose certa de referência ao real e de adesão à multiplicidade dos possíveis tem o poder de dinamitar a crosta superficial do autoconhecimento e do senso comum geral por onde filtramos passivamente a nossa experiência única do mundo. 

    As perguntas-alvo que permitem modelar os nossos objetivos penetram na massa turbilhonante dos encontros felizes e dos deveres de escola, não para dominar o vivido, mas para desenvolver os dons que em nós germinam e para melhor servir as necessidades dos que nos foram entregues por amor. 

O. E.

Imagem da Oficina 

Sobre o Silêncio Ativo

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Damien Roué via Compfight

“Há silêncios repletos de silêncio. Eles escutam-se.”

Eugène Guillevic

     O ritmo sacudido das chamadas da vida deixa-nos, frequentemente, dispersos;  vimos então em socorro da nossa própria concentração, tentando protegê-la: como se uma certa “forma” buscasse recolher um impulso generoso derramado. Traçamos um círculo protetor à sua volta: um horário claro, limites de colaboração bem definidos, não participação em surpresas… e litros de silêncio, para empapar de novo o húmus criativo. 

     Praticamos o silêncio ativo por um despojamento de pensamentos vãos; eles  nascem na agitação superficial do que meramente ocorre à nossa volta, mas não nos solicita num compromisso pessoal. Tornamo-nos assim, “anónimos” para nós próprios. Tentar conduzir “pela mão” o que espontaneamente se forma na nossa mente liberta as forças para uma atenção mais intensa e aberta à riqueza do real.

     “Estar”, simplesmente, acaba por ser uma arte: não existe algo como a “força de gravidade” num momento. Só “o peso” que se traz no coração pode assumir e instalar numa forma pessoal essa espécie de “elasticidade informe” que há no próprio presente. 

     Um coração dissipado não tem rumo a dar ao tempo. Um coração navegante gera as próprias correntes favoráveis precisamente nos troços por onde lhe parecia não poder transitar.

O. E. 

À Procura de Perguntas

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     Michèle Martin, no seu blog The Bamboo Project, partilha  múltiplas formas de    desenvolver uma prática de escrita reflexiva, publicando pequenos pacotes de    perguntas selecionadas para ir ao encontro de diferentes objetivos no âmbito do  desenvolvimento profissional.

     Escolhemos este pequeno punhado de questões, que podem orientar este treino de  escrita tanto dos nossos estudantes como nosso:

1. Como me sinto? Porquê?  

2. A que perguntas gostaria de responder? (3 a 5)  

3. Três projetos em curso de realização, neste momento. 

4. O que estou a aprender em cada um deles?

5. Em que posso melhorar?

    A primeira pergunta, que pode sempre introduzir qualquer outro questionário, parece, à primeira vista, um pouco estranha aos contextos a questionar.

    Contudo, o seu poder revela-se quando nos dispomos a responder-lhe sem reserva ou preconceito.

    Com efeito, ela permite-nos restabelecer uma conexão interior mais profunda connosco; alerta-nos para a presença de emoções não assumidas que entravam a nossa disponibilidade para o trabalho em curso;  centrando-nos no momento presente, contribui para nos unificar; finalmente, liberta-nos para a interação com uma realidade mais ampla, mais rica de possibilidades.

O.E.

Refletir Escrevendo

treino_para_exameImagem da Oficina 

 Escrever é explorar. Começamos do nada e vamos aprendendo à medida que avançamos.

E. L. Doctorow

      Sentimos necessidade de nos “re-situarmos” no óbvio da existência quando as pistas do sentido se multiplicam e a vida oferece uma paisagem prolífica, atravessada de movimentos contrários, de correntes lentas e rápidas, de caminhos que se entrecruzam.

    Pela  reflexão enfrentamos a riqueza viva deste emaranhado  colocando-nos a nós próprios questões adequadas.

    Interessam sobretudo aquelas perguntas que desencadeiam respostas silenciadoras, isto é, que induzem o silêncio; aquelas que nos permitem recentrar sobre o essencial; aquelas que nos dão a sensação de podermos avançar para o centro  de um assunto candente;  aquelas que facilitam a descoberta das causas de adiarmos compromissos difíceis ou que envolvem risco pessoal; aquelas, mais práticas, que nos permitem redesenhar uma hierarquia de prioridades entre as tarefas.

    O exercício da escrita reflexiva é um instrumento poderoso nestas situações comuns da vida. Apesar de  tão conhecidas, elas exigem um discernimento que a escrita  torna mais operante;   apesar de tão simples, elas escondem possibilidades surpreendentes que  só o paciente tatear da escrita pode iluminar.

O.E.

Para Refletir…

scarborough harbour,october 2008

Creative Commons License bertknot via Compfight

“Não se aprende com a experiência, mas sim com a reflexão sobre a experiência.”

John Dewey

     A autora Sheila Cameron, no seu livro “The MBA handbook”, afirma que o efetivo exercício da reflexão é considerado, hoje em dia, como absolutamente crucial para o desenvolvimento profissional.

    No seu livro, que se dirige a estudantes do Ensino Superior, a autora mostra como a reflexão fortalece a aprendizagem e porque se torna tão importante “desenvolver o hábito permanente de refletir”.

   Inspiramo-nos na nossa autora, para quem “uma boa lista de perguntas constitui a principal ferramenta de reflexão”, tentando traçar o perfil de uma “boa pergunta”, seja para nós, seja para os nossos estudantes:  

1. Como formular questões inspiradoras ou sugestivas,  incisivas  ou com mordente sobre uma dada situação?

 2. Como adaptar tais ferramentas de reflexão à idade dos alunos que frequentam a Oficina?

O.E.

Finalidades da Escrita na Oficina

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Imagem: da Oficina de Escrita

     Sem pretender esgotar assunto tão sugestivo, poder-se-iam elencar assim algumas das finalidades das atividades de  escrita que se vão realizando aqui na Oficina :

1. Treinar para as Provas Nacionais de 6º ano, onde a redação de texto vale 30% da classificação total.

2. Realizar a escrita de expressão pessoal segundo os objetivos do Programa de 2º Ciclo.

3. Contribuir para a construção da personalidade em crescimento dos nossos alunos, mediante a possibilidade de livre expressão, a objetivação de uma interioridade que se estrutura ao ser interpretada com a própria razão e o próprio sentimento.

4. Dar a voz, como quem dá a vez, permitir ao aluno tomar a palavra, sendo assim mais ativo e colaborante no processo da sua própria formação, segundo os Objetivos da Escola.

5. Projetar também a própria Escola, na publicação desta girândola de textos, mescla de reflexões incipientes e expressão de emoções vivas, em amostragem variegada daquilo que constitui também a riqueza e a força da Escola, para além do nosso trabalho comum e da nossa comunhão de vida : o mundo único e singular de cada um.

6. Verificar a ideia de que, colocar por escrito os nossos próprios objetivos de vida e as estratégias em curso de aperfeiçoamento para atingi-los potencia as possibilidades da sua realização, engendra uma nova força de autocompromisso  que, ao ser publicado, é ainda intensificado pelo testemunho da comunidade leitora.

7. Por fim, é a própria comunhão de pessoas que formam a Escola a receber uma tonalidade diferente, pela incorporação destas vozes da vida, entretecidas na escrita, que lhe acrescentam um travo  consistente, caloroso e indelével.

O. E.