A tempestade aproximava-se: windguru já tinha mostrado os ventos a 45 nós e as nuvens espessas a juntar-se todas por cima da Baía. Já se sentia o granizo a chegar às nossas velas, enquanto nós aparelhávamos. Já começavam as rajadas fortes e ondulação a aumentar.
O Optimist do Luís virou quatro vezes, esgotando-lhe as forças e fazendo-o quase pedir socorro. Eu tentei aproximar-me, contra a corrente fortíssima, para ajudar o meu amigo. Nesse momento, estava a chover imenso e eu gritei-lhe:
– Luís, agarra-te a este cabo, senão vais contra as rochas!
Ainda tive tempo, antes de atirar o cabo, de apitar três vezes para o meu treinador ouvir. Mas o treinador estava muito longe, a ajudar outros navegadores, por isso não se apercebeu logo do perigo que corríamos. Quando vimos que o Treinador e os seus navegadores estavam a milhas de nós, passamos ao plano B, que era “o plano da corda” e que ocorreu da seguinte forma:
Eu atirei a bossa, aproveitando uma onda encrespada que aproximou os dois barcos. Nessa altura já o granizo nos fustigava a cara e uma chuva sem tréguas limitava a visão a dois metros.
– Agarra a bossa, Luís!
– Estou a tentar, Tomás!
Via-se ao fundo uma onda enorme que ia rebentar. O Luís, com medo, gritou:
– Cuidado, vem uma onda pirata!
– Luís, deixa passar esta onda e a seguir já te passo novamente o cabo.
Aí, a onda passou, o Luís acalmou-se e lá agarrou a bossa, já a tocar com o patilhão nas rochas.
(Exercício “a duas mãos”)