Um Presente Absolutamente Inesperado – II

     National Menorah 02 - 2014Creative Commons License Tim Evanson via Compfight

     – Parem com isso e acalmem-se! Vocês são insuportáveis…! – desabafou o Carlos, imediatamente antes do toque de entrada para a última aula, que acabou com a discussão.

            O Duarte passou o tempo da viagem de regresso a casa, a magicar nas possibilidades de presentes que podiam servir para atingir o seu objetivo. Por um lado, tinha de ser algo completamente diferente; por outro, deveria ser um presente unissexo, pois não sabia se lhe calharia uma rapariga ou um rapaz… E era sempre tão difícil agradar às meninas! Absorto nos seus pensamentos, só se apercebeu de que haviam chegado a casa quando a mãe lhe perguntou se não tencionava sair do carro. Depois de partilhar com a mãe as suas preocupações, combinou acompanhá-la nas compras de Natal que planeara fazer mais tarde.

            Assim, nessa tarde, enquanto a mãe escolhia, no supermercado, iguarias para a ceia de Natal da instituição onde fazia voluntariado, o Duarte pediu-lhe para ir dar uma volta pelos vários departamentos do estabelecimento comercial, para tentar inspirar-se. Passou por várias secções, mas nada lhe parecia ser suficientemente especial. Ao passar pelo departamento de utilidades, viu Tamir, que escolhia velas com a sua mãe. Depois de o cumprimentar, o Duarte questionou-o, querendo saber se também procurava o presente para a troca do amigo secreto.

     Tamir, bastante surpreso por o colega lhe dirigir a palavra, pois habitualmente ninguém se aproximava dele na escola, respondeu negativamente, esclarecendo que estava a comprar velas para o Hanukkah, a “Festa das Luzes” do judaísmo…

     – Hanukkah!? Julgava que a religião de todos os sírios era o islamismo! – admirou-se o Duarte.

      – Não. Embora sejamos uma pequena minoria também na Síria, onde as comunidades judaicas se encontram em extinção, a minha religião é o judaísmo – retorquiu o Tamir, sorrindo. E continuou: – Costumamos acender uma vela por noite num candelabro especial, o Chanukkah, durante os oito dias de celebração do Hanukkah…

     Duarte estava a achar a conversa muito interessante, mas ao longe a mãe chamou-o, pelo que se despediu à pressa do colega, declarando que, no dia seguinte, queria saber mais acerca das tradições judaicas.

     No dia seguinte, no primeiro intervalo da manhã, o Duarte chamou Tamir para junto do seu grupo e questionou se ele já havia acendido a primeira vela. O sírio aproximou-se cautelosamente, ao mesmo tempo que todos os colegas do grupo do Duarte apresentavam uma expressão atónita perante a constatação daquela nova relação de amizade, e respondeu hesitante:

     – Sim… Acendi-a ontem à noite…

      Antes dos outros conseguirem articular qualquer tipo de objeção ao convite que efetuara, o Duarte começou a relatar o encontro do dia anterior, aproveitando para pedir a Tamir que lhes contasse mais sobre aquela celebração que, apesar de acontecer mais ou menos na mesma época da festa cristã do Natal (sabia que o Hanukkah ocorria no fim de novembro ou durante o mês de dezembro) tem motivações bastante diferentes.

     Então, Tamir explicou que, no Hanukkah, os judeus comemoram a libertação do Templo de Jerusalém do domínio dos Gregos no século II a.C. e o milagre do azeite que havia numa botija e que supostamente apenas duraria um dia, mas queimou no candelabro do Templo durante oito dias. Por essa razão, o Chanukkah tem nove braços, sendo o do meio, mais proeminente, denominado Shamash (servente), pois a vela que é posta no mesmo é utilizada para acender as velas que são colocadas nos outros oito braços. Também ficaram a saber que muitos sírios montam a árvore de Natal em casa, mas que apenas os cristãos constroem o Presépio. Tamir, encorajado pela atenção e interesse dos colegas de turma, elucidou que o Natal na Síria costumava ser um período de muitos concertos nas igrejas e nos teatros e de decorações nas ruas. Mas, de repente, o seu rosto ensombrou-se e acrescentou tristemente:

     – No entanto, nos últimos anos, deixaram de existir enfeites nas ruas e nas casas, porque muitas famílias perderam os seus entes queridos e o País está quase destruído…

(Continua)

Leonor T, 6B

Deixar uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *