rainy (cc)Creative Commons License Martin Fisch via Compfight

     Estávamos no décimo segundo dia do mês de Novembro; estava um céu cinzento naquela zona, vento e mar bravo; os pássaros cantavam, tentando alegrar o mundo, mas nada alcançando.

     Guilherme era uma pessoa solitária, que não tinha onde cair morto; vivia num pequeno apartamento de um prédio humilde, numa má zona.

     Ele era trintão e solteiro, triste e incompleto. Vivia a sua vida numa rotina chata e amarga, vazia. Sentia-se incompleto e ele queria completar-se; não procurava de forma completa e faltava-lhe completar a sua busca incompleta da completude absoluta.

     Acelera, muda de faixa, pé na embraiagem e quarta mudança, pé no acelerador, toque leve no travão, travão e acelerador. Enquanto fazia a curva, vinha uma descida: acelera, embraiagem, quinta mudança, três mil rotações. Guilherme já se aproximava da descida: ponto morto e o carro simplesmente deslizava.

     Era esta a forma de Guilherme se completar um pouco mais, com esta sua paixão. Todos os dias ele se desafiava a dar mais e a dar melhor; tinha uma condução perfeita e suave e estava bem acostumado ao seu Audi AG, a única riqueza que ele tinha.

     Guilherme chegou ao escritório às oito e quarenta e cinco, no seu horário puxado. Treze e cinquenta: Guilherme fazia a primeira pausa no seu trabalho árduo. O dia aquecera e o sol aparecera, ganhando, assim, uma vez mais, às nuvens, que surgiam no horizonte, escuras e pesadas; adivinhava-se chuva forte.

     Mesmo assim, Guilherme achava que estava muito abafado, que o dia estava mau, mas ele achava isto porque o dia dele estava a ser um dia mau. Os seus olhos brilhavam e o dia iluminava, quando o seu dia melhorava. Quando ele conduzia o seu Audi AG.

     Guilherme foi à cozinha da empresa aquecer o seu almoço. Tomou-o de uma forma rápida e solitária. Foi tirar o café e dirigiu-se à sua secretária para voltar ao trabalho; eram duas e vinte e cinco.

      Ele trabalhava muito e recebia mal. A sua própria função afastava-o das pessoas. Era uma sala com cerca de uma dúzia de secretárias, mas poucos deviam saber o nome daquele jovem.

[…]

Vasco S, 7A

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