A Biblioteca Misteriosa II

   

    Library
Photo Credit: Christian Senger via Compfight 

     Lá fui, com o coração a bater, como se me fosse sair do peito. Quanto mais andava, mais queria voltar, mas não o fazia. Depois dos dez minutos mais longos da minha vida, em que andei pelo parque, avistei uma casa, que era uma Biblioteca. Sentei-me num banco do jardim, a pensar se ia entrar. “Talvez sim, talvez não, talvez não, talvez sim” – pensava eu.

     Por fora, a biblioteca tinha um aspeto um pouco do século passado, uma bonita construção em pedra escura, envelhecida, com ervas pelas paredes. A porta estava encostada; via, pela pequena ranhura, uma sala escura.

     Lá abri a porta. Estava com medo de tudo. Sentei-me numa cadeira com os braços apoiados á mesa, para me habituar ao lugar. “- Já que cá vim, observo isto com toda a calma do mundo…” – pensava.

     Levantei-me e peguei num livro grosso, antigo, de capa bordeaux que estava quase toda descolada, com páginas amarelas e, claro, como em todos os filmes, um pouco de pó. Devia ser um livro para adultos. Abri o livro a meio e li duas linhas.

     Depois, fartei-me; fechei o livro e deixei-o em cima da mesa, como se fosse o meu sinal, o sinal de que eu tinha lá estado, como os padrões que os valentes e audazes marinheiros portugueses colocavam, aquele era o meu sinal, o sinal da minha presença, o sinal de um simples e normal jovem, e não de um herói que descobria terras e continentes, que arriscavam a sua saúde para o bem do seu país; fazer a pátria do seu Povo e dos milhares de heróis anónimos que morreram pelo caminho, mas que morreram com a consciência tranquila. Agora, menos mar, mais história… onde é que eu estava?

     Ia entrar para a segunda sala, uma sala com cheiro a mofo, e esta especialmente mal tratada, com cadeiras caídas, mesas caídas, livros caídos, teias por todo o lado e como pessoa politicamente correta, arrumei as mesas e cadeiras. Peguei no primeiro livro que vi numa estante e pu-lo em cima da mesa.  A minha presença já estava marcada; agora, próxima sala. Quem diria que aquela casa de telhado tão inclinado teria tanto mistério…

Vasco S, 6A