O Violino Mágico – II

     v for violin

NFarmer via Compfight

    Três livros numa prateleira, ninguém sabia de onde tinham aparecido, pois antes a prateleira estava vazia, mas no ano em que os três bebés nasceram, sem cabelo, fizeram uma festa e a senhora da biblioteca gritou:

     – Calem-se! São bebés!

      Mas como bebés fazem festas? Talvez os bebés façam festas, talvez os bebés fossem especiais, talvez a Srª da biblioteca fosse demasiado má. Mas isso não importa, o facto de os livros terem aparecido é que era estranho; se calhar, eram dos bebés.  

     Os bebés encontraram um livro que abria uma passagem secreta onde havia 1000 escudos, mas os bebés não eram burros, foram de elevador e, no fundo, encontraram um violino mágico. Um homem misterioso, disse:

      – O que fizeram, seus bebés doidos? 

      Mas que grandes bebés! Aquilo sim, eram bebés! Os bebés pegaram no violino e foram-se embora, virando a fralda e tocaram magnificamente violino. A senhora da biblioteca cantava muito bem e fizeram uma banda. Mas essa banda não durou muito, porque a senhora cantava como uma vaca a dar à luz. 

      Mau! eu não percebo se a senhora cantava como uma vaca a dar à luz ou se cantava bem, talvez certas vacas a darem à luz até cantem bem, mas adiante. Os bebés tornaram-se super-estrelas, mas talvez o violino é que fosse uma estrela. 

     Os bebés cresceram e, até ao fim das suas vidas, a Banda foi um sucesso, e a senhora da biblioteca voltou para a Banda, pois sem ela, eles não eram nada. Mas no fim descobriu-se que o violino era de plástico e tinha sido comprado no “Chinês”.

   Texto a 3 Mãos: exercício de “nonsense”; improviso de escrita alternando os autores segundo o livro “Quero Ser Escritor” de Margarida Fonseca Santos e Elsa Serra

Matilda M, Bernardo M, Vasco S

O Violino Mágico – I

   For Sale

Creative Commons License Randen Pederson via Compfight

     Havia um  Violino mágico que encantava toas as miúdas e todas gostavam de o ouvir. Então, um dia, uma rapaz começou a tocar e ele deixou de encantar as miúdas.

     Talvez a culpa não fosse do violino, talvez o violino fosse um violino como qualquer outro, mas por várias coincidências, sempre que alguém o tocava, tocava-o bem.

     Talvez as pessoas que o ouviam tivessem deixado de gostar das músicas, mas, enfim, o violino foi abandonado na lixeira. Passados três meses, o violino preparava a sua vingança contra as pessoas: queria torná-las escravas e, aquelas que recusassem, morriam.

     Mas que violino este… após muito pensar em como o fazer é que se lembrou de um importante pormenor… É que era um violino. Era um violino e os violinos não andam nem batem nos escravos e tudo o que um violino faz  é tocar belas músicas.

     O violino percebeu o quão mau tinha sido e que podia ser para sempre abandonado, pois ninguém quereria um violino como ele. Ficou muito tempo abandonado e pensou numa maneira de ser desculpado, mas não, nunca foi desculpado: foi para a Flórida, viver e foi posto à venda por 100 000 000 Euros.

    Houve um homem, que adorava música e comprou o violino para os seus empregados tocarem. Do nada começou a haver um apocalipse de Zoombies, mas o violino acalmava-os e punha-os a dormir, até que um dia, este violino, que custou um número que não sei ler, envolvido como os outros violinos dos outros textos, entre zoombies e diabos. Sem pessoas normais.

     Ele foi para a Nasa e partiu de foguetão para Vénus, onde ficou a viver num país chamado Vétoquis onde foi comprado por um Vénotis.

     Então a polícia espacial apanhou o violino e todas essas pessoas. Durante dez anos ficaram à espera do seu castigo e, quando o descobriram, ficaram histéricos de medo: o castigo era ser atirado para um buraco negro. E viveram felizes para sempre.

[Continua]

(Texto a três Mãos)

Vasco S, Bernardo M, Matilda M – 7A

Será?

One from All

Creative Commons License Lihoman… via Compfight

     O bem e o mal são dois conceitos diferentes; tão diferentes, que por vezes os extremos se tocam.

    Não existe gente muito má, não existe gente muito boa, nem existe gente má, nem existe gente boa. Existe gente; existe gente e muita gente.

     Existem 7 mil milhões de pessoas; existem pessoas felizes, existem pessoas tristes. Não existem pessoas más, não existem pessoas boas, cada caso é um caso.

    Acho que bom e mau são qualificações primitivas. O que é uma pessoa má? Será mau para ti, mas bom para mim? Será mau, pois é diferente.

    Qual o problema da diferença? Qual o problema de haver outros estilos?

    Será que nós, humanos, nos sentimos mais seguros a ofender? Será que a ofensa é uma forma de aumentar a nossa pequena e melancólica vida?

    Será que um pôr do sol é apenas um pôr do sol e que este texto é só tinta no papel, será?

      Sim, será para quem não varia, para quem tem medo de variar, e não acredita nem em magia nem em milagres?

     Será?

Vasco S, 7A

Como se Escreve uma História

Le Jour ni l’Heure 2200 : Claude Monet, 1840-1926, Soleil couchant sur la Seine à Lavacourt, effet d’hiver, 1880, musée du Petit Palais, Paris, jeudi 19 mars 2015, 12:53:11

Creative Commons License Renaud Camus via Compfight

     Recuaremos então a um sítio novo, imaginemos um ano na história do ser humano, um país …já está?

     Uma cidade, uma casa…imagine agora um sujeito, façamos agora o seu retrato físico, pense num homem, um homem de cabelo castanho , assim como os seus olhos.  Nós não sabemos a idade, imagine-a você, dê-lhe uma idade, dê-lhe uma ocupação, dê-lhe pensamentos, dê-lhe vida. Dê-lhe nome. Pense num nome. Já pensou? De certeza? Boa, chamar-se-á assim a nossa personagem.

     Num dia 17 de Março, (de um ano à escolha, no presente, passado ou futuro) às 16h 37, onde se encontrava ele?

     Agora o leitor pense num sítio, imagine todos os pormenores. As ruas perpendiculares e as casa brancas. Olhe para a calçada. Esse sítio cheira bem? Continue a imaginar: imagine um passeio, olhe para a calçada branca e para as faixas de terra entre as pedras; mas imagine mesmo.

      Imagine a nossa personagem a subir a rua, imagine o rosto das outras personagens. Imagine que o nosso sujeito principal acabou de subir a rua e vá imaginando mais ruas pelas quais ele vai andando. Pense em algo que aconteceu nesse passeio e pode continuar a pensar e a pensar…

     Assim poderá criar uma história.

Vasco S, 7A

Aquela Casa

   I sat in the dark alone to see my house

Wasfi Akab via Compfight

    Era branca,  de dois pisos,  com uma porta verde baixa, mas larga, com a cabeça de pedra de um leão, que servia para bater à porta e um local destinado para pôr as cartas, em ferro pintado de verde também.

     Coroava essa casa um grande telhado em bico, como aqueles que se encontram quando se viaja para a neve, aqueles que conduzem a neve até ao chão,  até fora dos telhados, evitando assim uma sobrecarga de neve em cima da casa e que pode ter consequências desastrosas.

     Esqueci-me ainda de referir as várias janelas pequenas espalhadas pela parede exterior, que deixavam entrar a luz do sol e da lua, a do céu e da iluminação pública.

      Quem é que viveria naquela casa? O que aconteceria dentro daquela casa? Ardia em mim um imenso fogo de curiosidade por aquela casa. Uma casa como qualquer outra  (apesar de nada se repetir, apesar de nada ser igual a nada, assim como defende a teoria do caos).

     Segui caminho, mas sempre com um desejo de voltar à casa. Aquela tal casa. Tinha pressa de ter coragem de me virar. Algo que a minha mente classificava secamente como uma ideia parva, mas o meu coração sentia-se simplesmente atraído.

     Mas, como sempre, a parte cerebral ganhou aos sentimentos.

Vasco S 


Motorcar Painting No.7 Mark Chadwick via Compfight

     Por esta altura, já o sol desaparecera atrás das nuvens carregadas de chuva; e esta chuva caía com tamanha intensidade que fazia um imenso barulho quando embatia no chão, um  barulho maior ainda quando embatia nas guarda-chuvas das pessoas que apressadamente se dirigiam para o seu destino.

     E é para aí que vamos, para um guarda-chuva que produzia barulho e para uma pessoa que caminhava apressada debaixo desse guara-chuva, um guarda-chuva preto e uma pessoa que caminhava apressada debaixo deste; essa pessoa era a nossa personagem, o nosso herói que de resto nada de heróico faz.

    Ele estava apenas apressado, já tinha estacionado o carro e caminhava rapidamente para o escritório, naquele dia em que tinha cometido um atraso bastante grande. Quando chegou à sua secretária, logo os colegas o avisaram que o chefe queria falar com ele.

      Foi uma conversa desagradável e rápida, tudo o que posso dizer é que depois de tal “conversa”, Guilherme já não tinha emprego.

    Sara era uma rapariga que tinha 27 anos e trabalhava em Marketing numa pequena empresa. Era uma pessoa muito amável e prestável, muito simpática e cheia de vida. Duma boa zona e de uma boa família, ela era uma boa pessoa. Gostava de ser como ela, era justa e simpática para todos, por onde passava deixava um pouco de amor e de alegria.

     Guilherme passou os seis meses seguintes da sua vida sem conquistas, sem percas nem memórias, nem pensamentos assinaláveis. Passou muito tempo no fundo de desemprego, mas não conseguia nada, visto que não tivera grandes notas enquanto estudante. Guilherme acabou por duvidar e pensar seriamente em voltar a estudar, mas mesmo os seus próprios fundos não o tornavam possível. Enfim, Guilherme decidiu procurar um trabalho que metesse menos cabeça e mais físico. Lá ia conseguindo um trabalhinho ou outro.

     Passados três meses, ou melhor, nove meses desde que Guilherme fora despedido, estávamos em agosto, em finais de agosto, a nossa personagem recebeu uma proposta para trabalhar numa oficina de automóveis (automóveis, a paixão do nosso herói), passaria assim a ser mecânico.

     Como já se deduzia, Guilherme aceitou logo o emprego. Passou alguns meses como assistente, para perceber a arte necessária para desempenhar a função. Ia fazendo uns trabalhitos e, passados três meses da sua entrada na oficina, já não era assistente nenhum, era mesmo mecânico; trabalhava sempre com o seu colega Pedro.

     E assim, passado tão rapidamente um ano desde o seu despedimento, voltamos a Novembro, a um Novembro escuro e apressado. Era um Novembro quase igual ao antigo Novembro e um Guilherme um pouco mais completo que o antigo Guilherme.

[…]

Vasco S, 7A

Wavy Fluid Painting Mark Chadwick via Compfight

     Guilherme acabara o trabalho e ia para casa. Entrou no Audi A6 e andava na auto-estrada, enquanto esboçava um pequeno sorriso no rosto, um sorriso que Guilherme não notava que  esboçava,  um sorriso que só esboçava dentro do seu Audi A6. Apesar de ele não saber, o seu sonho era andar sempre com aquele sorriso no rosto.

     Guilherme estacionou o seu carro; nesta altura já era noite cerrada. Entrou no seu prédio e subiu o elevador que chiava sem parar durante o seu percurso.

     Entrou no seu pequeno apartamento e mandou-se de forma brusca para o sofá. Nessa altura, ligou a televisão e procurou um filme para ver. Levantou-se  e foi à cozinha. Abriu o frigorífico e tirou a sopa, pôs numa caneca e aqueceu-a. Voltou para a sala de caneca na mão. Enrolou-se numa manta e pôs o filme.

     O Sol brilhava pela manhã no 13º de Novembro. Raios de sol que batiam nos olhos de Guilherme. Até que este, finalmente acordou. Eram 10h 32. O Trintão acordou atrapalhado e preocupado. Estava deitado no sofá da sala e tapado com uma manta. Olhou para o pulso direito e confirmou as horas. Levantou-se e vestiu-se muito apressadamente, mais não fez.

Vasco S, 7A

rainy (cc)Creative Commons License Martin Fisch via Compfight

     Estávamos no décimo segundo dia do mês de Novembro; estava um céu cinzento naquela zona, vento e mar bravo; os pássaros cantavam, tentando alegrar o mundo, mas nada alcançando.

     Guilherme era uma pessoa solitária, que não tinha onde cair morto; vivia num pequeno apartamento de um prédio humilde, numa má zona.

     Ele era trintão e solteiro, triste e incompleto. Vivia a sua vida numa rotina chata e amarga, vazia. Sentia-se incompleto e ele queria completar-se; não procurava de forma completa e faltava-lhe completar a sua busca incompleta da completude absoluta.

     Acelera, muda de faixa, pé na embraiagem e quarta mudança, pé no acelerador, toque leve no travão, travão e acelerador. Enquanto fazia a curva, vinha uma descida: acelera, embraiagem, quinta mudança, três mil rotações. Guilherme já se aproximava da descida: ponto morto e o carro simplesmente deslizava.

     Era esta a forma de Guilherme se completar um pouco mais, com esta sua paixão. Todos os dias ele se desafiava a dar mais e a dar melhor; tinha uma condução perfeita e suave e estava bem acostumado ao seu Audi AG, a única riqueza que ele tinha.

     Guilherme chegou ao escritório às oito e quarenta e cinco, no seu horário puxado. Treze e cinquenta: Guilherme fazia a primeira pausa no seu trabalho árduo. O dia aquecera e o sol aparecera, ganhando, assim, uma vez mais, às nuvens, que surgiam no horizonte, escuras e pesadas; adivinhava-se chuva forte.

     Mesmo assim, Guilherme achava que estava muito abafado, que o dia estava mau, mas ele achava isto porque o dia dele estava a ser um dia mau. Os seus olhos brilhavam e o dia iluminava, quando o seu dia melhorava. Quando ele conduzia o seu Audi AG.

     Guilherme foi à cozinha da empresa aquecer o seu almoço. Tomou-o de uma forma rápida e solitária. Foi tirar o café e dirigiu-se à sua secretária para voltar ao trabalho; eram duas e vinte e cinco.

      Ele trabalhava muito e recebia mal. A sua própria função afastava-o das pessoas. Era uma sala com cerca de uma dúzia de secretárias, mas poucos deviam saber o nome daquele jovem.

[…]

Vasco S, 7A

 Rain Room - Random International

Tom via Compfight

     Este era um daqueles dias tristes e escuros, frios e apressados.

    Parece que as pessoas vivem porque vivem, que as pessoas vivem porque sim, vivem sem razão, numa vida apressada; não é propriamente uma vida triste, é uma vida sem sentimentos e sem emoções, uma vida sem sentido, para as pessoas que não o buscam.

     Não sabem o que fazem, mas nem se perguntam. Acho que é o que elas têm, porque é o que merecem. São pessoas que se distraem da vida. Mas, na minha opinião, são porque o querem.

     Se eu sou triste, sou porque quero, apesar de nós não pensarmos nisso, se eu não conseguir fazer algo, não consigo porque não quero. Porque não me empenho, porque não o quero realmente, porque tenho medo de falhar ou medo de conseguir o que mais quero conseguir e depois já nada fazer sentido. Tenho medo de conseguir, e, em algumas coisas, prefiro sonhar, querer, esperar, e às vezes, sofrer e nunca chegar.

     Até isto não serve para tudo, mas se a única coisa que me faz sentido na vida é sonhar algo, quando o concretizar, a vida já não faz sentido. Talvez porque eu, sem me aperceber, não quero que faça sentido.

     Mas adiante, era um dia frio e triste.

    E numa rua fria e triste, alguém frio e triste se perguntava o porquê de tão pouca alegria. Perguntava-se o que fazia naquela vida, naquele mundo criado por ele, no mundo dele. Assim como cada um de nós vive no seu próprio mundo, no mundo que temos, no mundo que fizemos, mas às vezes não é o mundo que queremos.

     No mundo desse alguém pairava ódio e tristeza, parecia que esse alguém estava triste com ele e cansado dele, sim, estava cansado dele próprio. Já nada lhe fazia sentido e ele já nem sabia se alguma vez algo lhe fizera sentido outra vez. Já nem tinha sonhos, nem ninguém, já só tinha bens materiais que, normalmente, de nada servem…

Vasco S, 7A

O Mistério – III

     Tokyo 250

tokyoform via Compfight

     Maria, estando já a sair do apartamento de Pedro, continuava um pouco (um “pouco” muito acentuado) confusa, com tudo aquilo.

      Maria já sabia que era melhor ficar na sua, e deixar Pedro feliz da vida com o seu diamante achado debaixo das almofadas, mas, como é óbvio, este facto abalou Maria; apesar de ser já tratada por “dona”, ou seja, de já ter muita experiência na vida, continuava a refletir sobre o tema.

      Para se acalmar, tentara assobiar uma melodia, mas não funcionou. Por fim, pegou nas suas chaves, que estavam no móvel antigo de madeira, na entrada. Seguidamente, abriu a porta, saiu de casa e fechou a porta. Trancou a porta o mais que conseguia, pois afinal de contas sempre se encontrava lá uma jóia com um valor quase ilimitado.

     Por esta altura, já Joana se encontrava no restaurante combinado. O relógio marcava já 20h 37. Maria desceu de elevador, do 4º piso ao piso nº0 , também conhecido por rés do chão; em tudo o que fazia mostrava uma certa falta de calma. Numa dessas situações, ia ficando mesmo presa no elevador, o que lhe custou mais dois preciosos minutos. 

     Era uma noite fria de Novembro. O céu estava escuro como breu e o alcatrão da estrada, molhado; pouca gente se via na rua. Ao sair do prédio, Maria encolheu-se de frio e tapou-se bem tapada com o casaco da rua. Cheirava a gasolina e a alcatrão molhado. Nas paredes dos prédios brancos viam-se manchas de humidade. 

     Maria ainda andou uns bons trezentos metros, num profundo vazio. Quase não se cruzou com ninguém e, com quem se cruzou, ninguém tinha um ar simpático. O seu Alfa Romeu parecia estar tão longe. E ela andou, andou e andou. Estava quase com medo. 

     Vagueava pelas ruas, num escuro imenso, cheia de frio: quando expirava, saía uma mancha branca da sua boca (não, ela não  fumava; era, sim, uma mancha de vapor de água) . Ela andou, andou, andou… Por fim, já às 20h 40, chegou ao carro. 

[…]

Vasco S, 6A

O Mistério – II

     Honda Civic Sport

Eddy CJ via Compfight

     Maria não percebia, mas, para ela, o menino Pedro era “o seu menino” Pedro, nunca tinha tido condições financeiras assim por aí além; vivia no seu T1, comprado pelos seus pais que tentaram sempre não afastar Pedro das suas vidas. Eram uns pais muito ativos que sempre amaram muito os seus filhos.

     A irmã de Pedro decidira ir estudar para Londres, onde tirava o curso de Engenharia, a especializar-se em Barragens Hidroelétricas e era, como Pedro, uma criatura inteligente e responsável; Leonor tinha agora trinta anos; Leonor Pontes – Leonor Salgado Pontes – dava frequentemente notícias e já tinha dado ideia que o seu curso, que já caminhava para o fim, depois de três anos e pouco, corria mais que bem; dizia também que queria lá permanecer e tirar o mestrado, o que não agradava aos seus pais, não só pelas saudades, mas também a nível financeiro, porque eles não tinham como pagar; mas a mãe de Leonor e Pedro, a Srª Pontes, até já trabalhava ao fim de semana, para ter a certeza que nada faltaria à sua amada filha.

     O seu esposo, o Dr. Manuel, era a favor de não dar nada mais à filha; um homem que azedou com o tempo, ficou demasiado triste com a separação dos filhos; era um homem já de 57 anos, que estava de mal com o mundo; no seu caso, “velhaco” era sinónimo de “velho”; dizia que estava farto de tudo, andava deprimido.

     Leonor era uma mulher de armas que já quase ganhara o diploma de psicóloga. Esmerou-se para dar ao filho  um T1 e o tal Honda Civic característico de 28C4.    

   Pedro sempre fora tímido e calmo; astuto, não gostava de dar nas vistas. Estudava em Lisboa e tinha-lhe sido difícil a separação dos seus pais.

Vasco S, 6A

O Mistério – I

Fancy White Diamond, standing in clay. Milky White 1.08 ct 3x 1,16 light edit Macroscopic Solutions via Compfight

     – Sou capaz de estar atrasada – pensou de si para si Maria, quando entrou no quarto do menino Pedro, que estudava para arquiteto.

     Maria entrou no quarto de Pedro e viu tamanha algazarra que até se assustou e ficou a pensar em desmarcar o jantar que tinha prometido à sua querida amiga Carlota.

     Carlota era uma cabeleireira de meia-idade, nascida no Brasil e que trabalhava no cabeleireiro do Dr. Rui, que se tinha perdido da vida desde que a sua mulher, Joana, morrera.

     A Joana, fora-lhe diagnosticado um tumor maligno que já devia estar com ela há uns anos. Infelizmente para ela, os médicos só lhe deram duas semanas de vida. A mulher de Rui preferiu esconder-lhe esta realidade. Via-se que Joana não estava bem, mas ela achou que o marido não descobriria. E não descobriria mesmo, se não fosse Joana contar-lhe no dia quatro de Março, dois dias antes de ir desta para melhor.

      A Rui, custou-lhe aceitar isso: achava que ela se foi para não voltar, sem ela nada fazia sentido e arrastava-se de um lado para o outro.

      Carlota até se dava relativamente bem com Joana, apesar de Joana passar por patroa, porque, como andava desempregada há algum tempo, gostava de fazer companhia ao seu querido Rui.

      Acontece que nesses últimos sete meses, Carlota e Joana fermentaram uma amizade que viria a ser ímpar. Amizade que crescia e engordava todos os dias de trabalho.

     Maria tinha já sido apresentada a Joana e não se deram mal. Esse jantar já marcado devia servir para Carlota falar sobre tudo o que lhe viesse à mente, sobre essa desgraça; era o que pensava Maria, por isso, era sua obrigação não faltar.

     Maria olhou para o seu pulso e viu, no pequeno relógio, que as horas marcavam 20:15; sabendo que tinha marcado o seu jantar para as 20:25, já não tinha muito tempo.

     O quarto de Pedro estava numa grande algazarra: em frente, lençóis e mantas no chão, para já não falar de todas as suas camisas espalhadas.

     Pedro só saía da Universidade às 23 e 20, hora que Maria, como pessoa já sábia que era, achava um disparate que só fazia mal aos nervos.

     A empregada doméstica, que também trabalhava numa lavandaria de manhã, começou a arrumar as camisas que estavam no chão; depois, quando ia fazer a cama, deparou-se com uma estranha realidade: um diamante de cor azul-esverdeada, debaixo da almofada de Pedro!

      Como tinha ido lá parar?

     Maria fez a cama e deixou o diamante onde estava; fingiu não o ter visto. Mas como? Como é que lá estava? Maria só pensava nisso. Como?

Vasco S, 6A

A Biblioteca Misteriosa – IV

    an open door tom saunders via Compfight

       Queria qualquer coisa… fui para a quarta sala, a última.

      Abri a porta, já um pouco cansado daquela, já com pouca paciência para esta aventura que não era aventura, desinteressado pelo que viria a seguir… afinal, tudo vem a seguir: esta sala vinha a seguir da sala infantil, assim como a infantil vinha a seguir da maltratada, com cheiro a mofo, assim como a sala maltratada vinha depois da sala inicial, que ainda tinha o livro de capa bordeaux, com as páginas amareladas mal coladas, em cima da mesa, que eu olhava  através da pequena ranhura da porta, na minha ida àquele estranho parque, depois da manhã daquele dia de agosto quente, quente demais até, em que tinha ficado em casa, sem fazer nenhum; naquele verão que veio depois do outono e do outro e do outro… qual é então o sentido da vida, sabes?

      Pensei, pensei, pensei… ainda penso, penso dentro daquela biblioteca e penso dentro desta pequena sala acolhedora onde todas as semanas eu escrevo uma história, por vezes estudo, por vezes não tenho testes nem imaginação, não há nada a fazer. Assim tem de ser. É assim que funciono.

      Mas penso, penso, penso … penso que o sentido da vida é ser alegre, andar alegre.

     Portanto quero outra continuação para a minha história, e aí vamos…

     Abro a porta da última sala meio melancólico e qual não é o meu grande espanto, não posso acreditar, quando vejo…

Fim

Vasco S, 6A

A Biblioteca Misteriosa – III

     Leafcutters Thomas Simmons via Compfight

     Passei a terceira sala, ou uma sala que deveria ser destinada para os leitores mais novos  ( leitores… bom, para lá fazerem os jogos de tabuleiro simples, as cobras, as escadas e esse tipo de jogos… Aliás, como eu fazia quando era pequeno; ou então entravam para fazer um desenho, ou para as mamãs lhes lerem uma história, ou seja, para ler não era).

     Sentei-me em cima da mesa como tanto gosto de fazer. (Ali ninguém me podia dizer para sair). E contemplei o vasto e belo jardim, infelizmente deveras mal tratado. A tinta branca da parede já descascada, afastada da parede em alguns sítios. No chão, bastantes pedaços de parede, pó e algumas formigas.

     Elas andavam, andavam, andavam… lutavam pela vida, ao contrário de alguns dos arrogantes que por vezes vemos a falar de coisas sobre as quais não sabem rigorosamente nada e rigorosamente nada dizem.

    Só falam, nada dizem; ouvidos abertos para ouvir nós temos, e não ouvidos abertos para escutar aquele som banal dos ricos com cunhas, que vão para a tv sobretudo falar e nada dizer;  portanto amigos, é assim que a sociedade funciona.

     As cunhas de ter dinheiro, as cunhas de ter fatos da Hugo Boss ou do Giorgio Armani, que bebem vinhos caros, que têm barriga de cerveja, o cabelo repleto de gel, com o bigode à espanhola, cheiram a vinho caro da boca, cheiram a cachimbo da boca, são tetos altos que tiram as hipóteses às formigas da nossa sociedade.

     Portugal está a atravessar um mau momento e, comicamente, dizem que a população vai diminuir, porque cá, os jovens não têm a possibilidade da paternidade e alguma dessa culpa pode ser atribuída aos barrigas de cerveja e às batôns caros.

    Tinha mesmo de dizer isto, agora vamos continuar.

   Voltei às outras salas para ver se havia qualquer coisa de que eu pudesse gostar. Um livro, um CD, qualquer coisa, eu só queria trazer qualquer coisa, qualquer coisa que eu me pudesse recordar do tal edifício… queria qualquer coisa…

Vasco S, 6A

Adeptos do NSA

  NSA

Imagem:Núcleo Sportinguista de Alcabideche

OE – O Vasco S do 6ºA e o Tiago S do 6ºB iniciaram, há duas semanas, uma Oficina em comum. Embora cada um prossiga diferentes objetivos –  o Vasco, mais voltado para a criação de texto livre, onde é exímio, o Tiago, por enquanto, a pôr à prova a eficácia de diferentes estratégias de estudo – ambos têm em comum a paixão pelo futebol e a filiação no mesmo Clube, o NSA.

 Foi pois com muito interesse que a Oficina de Escrita recolheu alguns excertos do diálogo acalorado com que estrearam a  primeira sessão do seu trabalho em comum.

O Tiago Pratica futebol – nos recreios – em todas as posições possíveis na equipa: como avançado, lateral direito,  guarda-redes e defesa. O seu Clube favorito é o Benfica, mas também o Real Madrid; a nível local, participamos no  Mundialito e temos o Copa Guadiana do NSA.

   Tiago –  Sempre fui guarda-redes, primeiro fui defesa. Saí de guarda-redes, porque veio um treinador excessivo, parecia que estava a treinar os profissionais. Ficava exausto: cada vez que não defendia uma bola, ele recomeçava o treino.

Vasco –  Quando eu cheguei, o treinador, em cada dez remates acertava um. Eu era avançado, mas agora sou guarda-redes no NSA.  Estou na equipa A. 

Tiago  – Quando saí, fui para o ténis. Se eu voltar, eu fico logo no início como guarda-redes e tu ficas no banco, Vasco. O Prof Américo sempre foi o meu treinador. Treinamos todos os dias, das 5 àS 9.

Vasco – Treinamos  3 vezes por semana. Uma vez fiquei todos os dias, das 7h às 9h para o professor decidir quem iria pertencer à equipa A.

Tiago – Houve uma altura em que começaram todos a sair, estávamos a perder jogos – agora os de 2004 passaram para a equipa A, estamos melhor.

Tiago  – Gosto de ler o livro “Aprende Futebol”, que tem figuras a três dimensões, com um elástico e uma bola e, na margem, ao lado, tem a explicação da jogada.  NSA

Vasco e Tiago sobre “Táticas mais apreciadas”:

Tática da Inglaterra  – passar a bola para o avançado e o avançado marca  – é um golo  muito direto.

Tática da Alemanha – marcação de golo quase direto de baliza a baliza.

Tática do Brasil – um emaranhado de linhas vivas que mostram a criatividade e surpresa permanentes como tática de jogo.

OE – Aos dois companheiros de campo, obrigada por esta partilha e votos de bom êxito no estudo e no jogo.

A Biblioteca Misteriosa II

   

    Library
Photo Credit: Christian Senger via Compfight 

     Lá fui, com o coração a bater, como se me fosse sair do peito. Quanto mais andava, mais queria voltar, mas não o fazia. Depois dos dez minutos mais longos da minha vida, em que andei pelo parque, avistei uma casa, que era uma Biblioteca. Sentei-me num banco do jardim, a pensar se ia entrar. “Talvez sim, talvez não, talvez não, talvez sim” – pensava eu.

     Por fora, a biblioteca tinha um aspeto um pouco do século passado, uma bonita construção em pedra escura, envelhecida, com ervas pelas paredes. A porta estava encostada; via, pela pequena ranhura, uma sala escura.

     Lá abri a porta. Estava com medo de tudo. Sentei-me numa cadeira com os braços apoiados á mesa, para me habituar ao lugar. “- Já que cá vim, observo isto com toda a calma do mundo…” – pensava.

     Levantei-me e peguei num livro grosso, antigo, de capa bordeaux que estava quase toda descolada, com páginas amarelas e, claro, como em todos os filmes, um pouco de pó. Devia ser um livro para adultos. Abri o livro a meio e li duas linhas.

     Depois, fartei-me; fechei o livro e deixei-o em cima da mesa, como se fosse o meu sinal, o sinal de que eu tinha lá estado, como os padrões que os valentes e audazes marinheiros portugueses colocavam, aquele era o meu sinal, o sinal da minha presença, o sinal de um simples e normal jovem, e não de um herói que descobria terras e continentes, que arriscavam a sua saúde para o bem do seu país; fazer a pátria do seu Povo e dos milhares de heróis anónimos que morreram pelo caminho, mas que morreram com a consciência tranquila. Agora, menos mar, mais história… onde é que eu estava?

     Ia entrar para a segunda sala, uma sala com cheiro a mofo, e esta especialmente mal tratada, com cadeiras caídas, mesas caídas, livros caídos, teias por todo o lado e como pessoa politicamente correta, arrumei as mesas e cadeiras. Peguei no primeiro livro que vi numa estante e pu-lo em cima da mesa.  A minha presença já estava marcada; agora, próxima sala. Quem diria que aquela casa de telhado tão inclinado teria tanto mistério…

Vasco S, 6A

Fazer Rir Crianças

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Imagem: Palhaço-Terapia

     Antes de mais, queria dizer que, pessoalmente, acho que toda a gente devia ajudar esta causa por diversas razões.

     Primeiro, fazemos as crianças rir, e esquecem-se dos seus problemas de saúde, ficam contentes e não se sentem sós.

     Depois, quem anima sente-se melhor, completa, encontra-se a si própria, fica uma pessoa rica, faz com que a criança se sinta melhor e quando sai, sente-se esclarecido, e percebe que os seus problemas são relativos e que não vale a pena fazer dramas com pequenos problemas quando vê crianças doentes e felizes.

     As pessoas que contribuem, sentem-se bem, felizes, e pensam que se tivessem estado doentes, internadas ou se estiveram mesmo doentes em crianças, como gostaram de ter pessoas a animar ou como gostariam de ter;  ou se pensam em alguém que está ou estava doente, também pensam em pessoas doentes e felizes, e, à semelhança dos palhaços, também pensam que fazem grandes dramas.

     Por isso, se não contribui, faça-o e ajude, para que centenas de palhaços como eu façam milhares de crianças sorrir e mudar as as suas vidas.

Vasco S, 6ºA

2º TS de Português

Um Acontecimento Misterioso

The End - And Yet - The Beginning
Photo Credit: Ian Sane via Compfight

I

     Lembro-me tão bem desse dia  de agosto: dia quente, quente demais até. Tinha dormido tão bem nessa noite, tinha-me deitado às 23 h e de manhã estava-me a sentir tão bem no quentinho da cama… fiquei lá imenso tempo, até que, finalmente, me levantei.

    Estava a sozinho em casa o dia todo. Até ás 13 h  fiquei em casa sem “fazer nenhum” (como quem diz). Até que me apeteceu fazer alguma coisa. Fui dar uma grande volta a pé. Queria uma volta que durasse “para aí” duas horas.

     Fui até muito longe, um parque que desconhecia. Não estava lá mais ninguém. Era um bocadinho assustador (ok, talvez fosse muito assustador), mas continuei, apesar de estar cheio de medo.

    Agora que penso nisso, não sei porque avancei, e, na altura, não pensei. Achava melhor voltar para trás, mas fui para a frente. Como se diz “para a frente é que é caminho”. Eu nem pensei nisso, não pensei em nada. (Mas continuei porque assim fiz, e não sei porque é que  assim fiz. Só sei que o fiz, como aquelas coisas que nós fazemos e nem soubemos porquê.

     Lá fui, a olhar para todos os lados com o coração a bater a cem.

Vasco S

Uniforme no Segundo Ciclo

Indigo
Creative Commons License Photo Credit: Scott Wills via Compfight

       Considero que a utilização de farda no 2º ciclo é uma decisão acertada de todas as escolas que o fazem –  há mesmo escolas que o fazem até ao nono – e penso que todos os colégios privados deveriam aplicar esta teoria.

     Não falo da farda de camisa, saia e meia até ao joelho. Uma farda que seja “farda”, mas que não seja “farda-farda”: uma farda que seja farda de camisola, casaco e calças de ganga, não da escola, com ténis nos pés e não sapatos de vela.

     Acima de tudo, com o uso da farda, não há “aquilo” de se ser melhor que o outro pelo casaco de marca e uma roupa mais cara.

     Além disso que dá “melhor ar” à escola: os estudantes acabam por estar todos bem vestidos e a escola parece mais organizada.

     Por outro lado, o facto de haver farda ajuda sempre nas visitas de estudo: as pessoas não se perdem facilmente.

     Por fim, sente-se mais o que é ser «desta» escola: porque nos vemos com a mesma roupa de todos os alunos da escola.

   Por todos estes motivos concordo com a utilização de farda no segundo ciclo.

Vasco S, 6A