Damien Roué via Compfight
“Há silêncios repletos de silêncio. Eles escutam-se.”
O ritmo sacudido das chamadas da vida deixa-nos, frequentemente, dispersos; vimos então em socorro da nossa própria concentração, tentando protegê-la: como se uma certa “forma” buscasse recolher um impulso generoso derramado. Traçamos um círculo protetor à sua volta: um horário claro, limites de colaboração bem definidos, não participação em surpresas… e litros de silêncio, para empapar de novo o húmus criativo.
Praticamos o silêncio ativo por um despojamento de pensamentos vãos; eles nascem na agitação superficial do que meramente ocorre à nossa volta, mas não nos solicita num compromisso pessoal. Tornamo-nos assim, “anónimos” para nós próprios. Tentar conduzir “pela mão” o que espontaneamente se forma na nossa mente liberta as forças para uma atenção mais intensa e aberta à riqueza do real.
“Estar”, simplesmente, acaba por ser uma arte: não existe algo como a “força de gravidade” num momento. Só “o peso” que se traz no coração pode assumir e instalar numa forma pessoal essa espécie de “elasticidade informe” que há no próprio presente.
Um coração dissipado não tem rumo a dar ao tempo. Um coração navegante gera as próprias correntes favoráveis precisamente nos troços por onde lhe parecia não poder transitar.
O. E.