Impossíveis Rouxinóis

   Bird | 06.06.14 | 01

Andrey Solovev via Compfight

     São mesmo inimagináveis quando cortam a noite com o seu canto de fogo. Nem se acreditaria na existência deles se não nos fosse dado ouvi-los. Mas é muito raro e perigoso, aproximarmo-nos dos seus esconderijos pois acontece que nascem em ramos altos, escondidos na folhagem, em estratégicos ninhos que mal se podem alcançar.

     Em vias de extinção, seu canto exímio antes da madrugada raramente se ouvirá se não nos adentrarmos na floresta escura. 

     Rouxinol, mas que belo canto, esse! Pena ser noturno. Só quando o luar ilumina as clareiras da floresta, fazendo-as brilhar como pequenos astros, é que podemos distingui-los entre os ramos dos enormes carvalhos… mas carvalhos que tão pouco existem na floresta, agora só eucaliptos, secando tudo à sua volta, sós no orgulho que retira a água aos arbustos mais pequenos.

      Não assim os carvalhos imponentes, sábios anciãos da floresta orvalhada, nobres no seu aprumo sob a chuva. Aí, entre a  folhagem, em noites de luar, entre cintilações de porcelana, podes ouvir o canto de fogo a rasgar a noite e acreditar nos quase impossíveis rouxinóis.

 É essa triste verdade

Que me faz pena

Pois é essa realidade

Que me impediu

De escutar tão belo canto

No entretanto,

Com muito espanto,

Já avistei uns quantos

E mais ninguém os viu.

(Texto a duas mãos)

Segundo “Quero Ser Escritor” de Margarida Fonseca Santos

Miguel F e OE