Motorcar Painting No.7 Mark Chadwick via Compfight

     Por esta altura, já o sol desaparecera atrás das nuvens carregadas de chuva; e esta chuva caía com tamanha intensidade que fazia um imenso barulho quando embatia no chão, um  barulho maior ainda quando embatia nas guarda-chuvas das pessoas que apressadamente se dirigiam para o seu destino.

     E é para aí que vamos, para um guarda-chuva que produzia barulho e para uma pessoa que caminhava apressada debaixo desse guara-chuva, um guarda-chuva preto e uma pessoa que caminhava apressada debaixo deste; essa pessoa era a nossa personagem, o nosso herói que de resto nada de heróico faz.

    Ele estava apenas apressado, já tinha estacionado o carro e caminhava rapidamente para o escritório, naquele dia em que tinha cometido um atraso bastante grande. Quando chegou à sua secretária, logo os colegas o avisaram que o chefe queria falar com ele.

      Foi uma conversa desagradável e rápida, tudo o que posso dizer é que depois de tal “conversa”, Guilherme já não tinha emprego.

    Sara era uma rapariga que tinha 27 anos e trabalhava em Marketing numa pequena empresa. Era uma pessoa muito amável e prestável, muito simpática e cheia de vida. Duma boa zona e de uma boa família, ela era uma boa pessoa. Gostava de ser como ela, era justa e simpática para todos, por onde passava deixava um pouco de amor e de alegria.

     Guilherme passou os seis meses seguintes da sua vida sem conquistas, sem percas nem memórias, nem pensamentos assinaláveis. Passou muito tempo no fundo de desemprego, mas não conseguia nada, visto que não tivera grandes notas enquanto estudante. Guilherme acabou por duvidar e pensar seriamente em voltar a estudar, mas mesmo os seus próprios fundos não o tornavam possível. Enfim, Guilherme decidiu procurar um trabalho que metesse menos cabeça e mais físico. Lá ia conseguindo um trabalhinho ou outro.

     Passados três meses, ou melhor, nove meses desde que Guilherme fora despedido, estávamos em agosto, em finais de agosto, a nossa personagem recebeu uma proposta para trabalhar numa oficina de automóveis (automóveis, a paixão do nosso herói), passaria assim a ser mecânico.

     Como já se deduzia, Guilherme aceitou logo o emprego. Passou alguns meses como assistente, para perceber a arte necessária para desempenhar a função. Ia fazendo uns trabalhitos e, passados três meses da sua entrada na oficina, já não era assistente nenhum, era mesmo mecânico; trabalhava sempre com o seu colega Pedro.

     E assim, passado tão rapidamente um ano desde o seu despedimento, voltamos a Novembro, a um Novembro escuro e apressado. Era um Novembro quase igual ao antigo Novembro e um Guilherme um pouco mais completo que o antigo Guilherme.

[…]

Vasco S, 7A

Wavy Fluid Painting Mark Chadwick via Compfight

     Guilherme acabara o trabalho e ia para casa. Entrou no Audi A6 e andava na auto-estrada, enquanto esboçava um pequeno sorriso no rosto, um sorriso que Guilherme não notava que  esboçava,  um sorriso que só esboçava dentro do seu Audi A6. Apesar de ele não saber, o seu sonho era andar sempre com aquele sorriso no rosto.

     Guilherme estacionou o seu carro; nesta altura já era noite cerrada. Entrou no seu prédio e subiu o elevador que chiava sem parar durante o seu percurso.

     Entrou no seu pequeno apartamento e mandou-se de forma brusca para o sofá. Nessa altura, ligou a televisão e procurou um filme para ver. Levantou-se  e foi à cozinha. Abriu o frigorífico e tirou a sopa, pôs numa caneca e aqueceu-a. Voltou para a sala de caneca na mão. Enrolou-se numa manta e pôs o filme.

     O Sol brilhava pela manhã no 13º de Novembro. Raios de sol que batiam nos olhos de Guilherme. Até que este, finalmente acordou. Eram 10h 32. O Trintão acordou atrapalhado e preocupado. Estava deitado no sofá da sala e tapado com uma manta. Olhou para o pulso direito e confirmou as horas. Levantou-se e vestiu-se muito apressadamente, mais não fez.

Vasco S, 7A