Coração de Fantasia

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Creative Commons License Photo Credit: Cornelia Kopp via Compfight

      – Porque estás a chorar, Coração de Fantasia?- perguntou Ana vendo-a assim.

   –  É porque eu saí da fantasia, saí do meu reino. E estou preocupada porque eu é que controlo o dia, a noite, e tudo o que neles ocorre.

     – Isso é preocupante! – exclamou Ana – Como te posso ajudar?

     – Primeiro tens de aprender a entrar no mundo da fantasia. Se alguém nunca tiver ido, pode entrar pelo portal do reino da Fantasia. Primeiro, há um livro que fica mesmo debaixo do pavimento central desta Biblioteca, cuja forma é o próprio símbolo do Reino da Fantasia.

     O Coração da  Fantasia conhece os sinais espalhados por  toda a Biblioteca e cada sinal tem uma pista para ajudar Ana.

    Ana começou a distinguir algo a brilhar no chão.

     Coração da Fantasia exclama:

     – Depressa! Agarra-o! É um dos sinais! E só brilha á luz da lua cheia!

     Ana debruçou-se e agarrou-o: Tinha a forma de um unicórnio em miniatura de cabeça para baixo, tocando com o chifre na lua.

     Dizia: “Se escutares o tic o tac na estante ao pé dos livros do mar, outra pista irás encontrar”

      Ana, com a ajuda do Coração da Felicidade – a rapariga morena de cabelos castanhos, com quatro madeixas coloridas – subiu as escadas e foi ter ao único relógio que ainda funcionava naquela Biblioteca. De um lado a estante dos livros da Terra; do outro, a estante dos livros do mar. Ela costumava ir para ali quando o João e a Maria ainda não tinham ido para aquela escola. Isso foi no tempo em que a Biblioteca ainda estava aberta a todos os estudantes. Depois, o jardim, ao abandono, foi escondendo as paredes.

     Ana lembrou-se que gostava muito do mar e que tinha perguntado ao  Tiago – o dono da Biblioteca –  onde estavam os livros sobre o Mar. Acabaram por fechar a Biblioteca porque o Tiago morreu.  

     Como ninguém na escola gostava do Mar, pois nunca o tinham visto, sendo todos do Norte, só Ana se interessava por esses livros, pois ela tinha vivido algum tempo na costa.

     Tiago dissera que ela podia vir ao sótão da Biblioteca sempre que quisesse. Ele tinha posto a escultura de um golfinho com a boca semi- aberta diante da porta do sótão secreto. A chave estava dentro da boca do golfinho. Tiago explicara que ela tinha de tocar no ouvido direito do golfinho, porque ninguém conseguia colocar a mão dentro da boca da estátua.

     Depois de Ana ter contado ao Coração da Fantasia as suas recordações, foi até lá. Encontrou a escultura, tocou-lhe no ouvido, e, para seu espanto, a boca abriu-se e pôde retirar a chave.

     Abriu a porta do sótão secreto e viu ao luar da meia-noite, um relógio no teto que, sendo transparente no meio, estava incrustado de tal modo entre as telhas que se podia ver também do lado de fora e deixava-se atravessar pelos raios do luar.

(Continua)

Cátia O 6B