Sonho de uma Noite de Verão – I

Hobbit town and country, by the late, great Ken Vititus

Creative Commons License Wonderlane via Compfight

     Acabou a primavera, veio o verão, podemos começar a ir à praia, andar de bicicleta e todos os animais a voltar ou a manter-se na sua casinha. Casinhas pequeninas, construídas com o barro do amor, como os ninhos a que se volta sempre e estão entretecidos de musgo seco e pauzinhos, ou então abrigos cavados na terra mais fofa, rente à rocha, forrados de palhinhas.

     O amor do verão é que nos faz apaixonar e amar o sol. O sol é maravilhoso e permite fazer mais surpresas fora de casa.

    Lá fora, na vastidão dos encontros e das construções humanas, é que pode, quem sabe, encontrar-se o rigor apetecido para nos podermos realmente dar. Seguimos os outros, servimos os outros, confiamos nos outros, todos nós, filhos das noites de Verão. Vemos melhor assim, no escuro luminoso do próprio coração.

    O Coração vê tudo, especialmente o que gosta e o mais bonito: o amor da nossa vida, mas não só, também a beleza do verão.

     O Amor, esse sonho perseguido por cada geração , vida a vida, devoradas todas no braseiro do infinito, o amor vivaz, ressurgindo a cada nova descoberta, diluindo-se no tempo, escoando-se na alma das cidades, toalha subterrânea turbilhonando por baixo do calendário estabelecido.

    O Verão, a primeira semana já passou e o sol é diferente para os meus olhos: continua a ser amarelo e bonito. E agora, até acabar o verão o sol vai mudar para mim ou não?

(Texto a duas mãos)

Sofia L e OE

Entre Mar e Céu

     Redningsskøyta RS 135 "Kaptein Egil J. Nygård" i grov sjø

Mads Henrik via Compfight

    Dedicado a Carolina, Mafalda e André

      Íamos a bordo de um luxuoso cruzeiro que devia atravessar o Atlântico em cerca de três semanas. Todas as manhãs, estávamos as três, a Meg, a Carol e eu a bronzear no convés, à beira da piscina azul turquesa do navio, esplendidamente servidas por empregados atenciosos que satisfaziam os nossos mínimos desejos com um sorriso encantador.

     O Piloto do navio, um velho amigo do nosso Grupo, Andrew, tinha-se formado em engenharia naval com distinção e fazia a sua primeira travessia oceânica. Por vezes, tínhamos o privilégio de o irmos visitar à cabine de comando e ele explicava-nos entusiasticamente o funcionamento daquela quantidade de radares, alavancas e botões brilhantes.

     Carol e Meg passavam os serões na pista de dança, para gáudio dos músicos a bordo, pois elas eram exímias em hip-hop e dnça-jazz, atraindo à discoteca uma multidão de passageiros.

     Contudo, no início da 2ª semana, o sol forte e a mansidão das ondas que nos vinham embalando começaram lentamente a transformar-se : nuvens encasteladas de um cinza escuro e ameaçador, ondas que refletiam a rapidez dos ventos de noroeste, raspando o convés com suas rendas de espuma e transindo os passageiros com um arrepio de medo e de frio que nada deixava pressagiar de bom.

      Andrew, o nosso amigo querido, não sáia da cabine, branco como a cal, o coração inquieto, contatando desesperadamente por telégrafo todos os barcos em redor: mas nada! Não recebia respostas, parecia que estávamos isolados no meio do Oceano feroz.

      Nessa noite, as vagas alteraram-se: subiram a mais de 15 metros e a proa do navio mergulhava a pique no vazio de cada onda. Foi então que aconteceu o terrível: em plena noite, à luz de um relâmpago incendiário, Andrew viu erguer-se à frente do navio os dentes escarpados de um rochedo vulcânico que emergira do mar há milhares de anos.

     Tínhamos saído da nossa rota e estávamos prestes a chocar com a costa rochosa de uma ilha dos Açores! Que iria acontecer? Carol, Meg e eu abraçámo-nos no camarote escuro, suspensas entre o Mar e o Céu.

Improviso para um tema: “Tempestade”.

OE