Falamos todo o dia…falamos tanto…no entanto, por vezes, tapamos o vazio com um fio de palavras como colar de contas que nos ajuda a saltar no carreirinho do tempo, de momento em momento, sem que o coração consiga respirar.
Às vezes acontece o milagre: o tempo dobra-se e volta, vai e volta, como a naveta de um tear lançado pelas palavras; escava um círculo que se aprofunda e o instante presente parece alargar-se ao infinito.
O que torna uma conversa inesgotável?
Foi ela que provocou a alquimia do tempo: o adensou, o curvou, o inclinou para dentro e depois o ampliou sem limites. O coração respira fundo, a inteligência espreguiça-se e lança-se à dança de pensar.
Alguém está connosco e nós próprios somos, finalmente, alguém para o outro.
Que dizemos? Que falar é este que faz do tempo um barro em seus dedos de palavras?
Quem nos tornamos, um para o outro, interlocutores únicos, emergindo cada um para o reconhecimento do outro, como duas questões vivas a aprofundar sem fim?
OE