O Meu Avô

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     O meu avô tinha cabelo branco e curto; tinha olhos castanhos e uns óculos redondos; o nariz era bem formado e a boca pequena e avermelhada; tinha umas faces rosadas, parecidas com maçãs. Ele era um homem que estava praticamente sempre a sorrir e nos divertia muito.

     Quando o meu avô faleceu, foi um dia horrível: só via a minha mãe a chorar, quando a minha mãe recebeu um telefonema e era uma amiga minha a dizer para eu ir lá para casa dela. Sinceramente não me apetecia ir porque queria ficar a ajudar. A mãe dela disse-me para eu não me preocupar, porque ele tinha ido para um sítio melhor.

     Era um homem maravilhoso. Era simpático, mas um homem cheio de segredos; às vezes ia sozinho para a sua biblioteca e faziam coisas que eu acho que nem a minha avó sabia. Sempre que ele estava a trabalhar, esquecia-se de tudo à volta.

      O meu avô colecionava livros e moedas de todos os países. Sempre que eu encontrava alguma, ia a correr para lhe dar. Houve uma vez em que a minha irmã lhe deu uma nota e ele não aceitou, só que, mais tarde, ficou com ela. Quando ele faleceu, nós descobrimos essa nota com um papel a dizer: “Para a minha neta Mariana.”

     Ele era muito engraçado. Há pouco tempo, eu estive a ver uns filmes de quando a minha irmã mais velha devia ter uns três ou quatro anos e o meu avô aparece lá a fazer uma das suas “poses” engraçadas.

     Ele adorava carros e tinha sempre uns carrinhos no armário para eu, as minhas irmãs e os meus primos brincarmos. Também gostava de vinho, e nós dávamos sempre uma garrafa nos anos.

     Sinto muito a falta dele, mas eu sei que ele está num sítio muito melhor.

     Beijos para o céu, especialmente para o meu avô!

Carlota C, 5C

O Mistério – III

     Tokyo 250

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     Maria, estando já a sair do apartamento de Pedro, continuava um pouco (um “pouco” muito acentuado) confusa, com tudo aquilo.

      Maria já sabia que era melhor ficar na sua, e deixar Pedro feliz da vida com o seu diamante achado debaixo das almofadas, mas, como é óbvio, este facto abalou Maria; apesar de ser já tratada por “dona”, ou seja, de já ter muita experiência na vida, continuava a refletir sobre o tema.

      Para se acalmar, tentara assobiar uma melodia, mas não funcionou. Por fim, pegou nas suas chaves, que estavam no móvel antigo de madeira, na entrada. Seguidamente, abriu a porta, saiu de casa e fechou a porta. Trancou a porta o mais que conseguia, pois afinal de contas sempre se encontrava lá uma jóia com um valor quase ilimitado.

     Por esta altura, já Joana se encontrava no restaurante combinado. O relógio marcava já 20h 37. Maria desceu de elevador, do 4º piso ao piso nº0 , também conhecido por rés do chão; em tudo o que fazia mostrava uma certa falta de calma. Numa dessas situações, ia ficando mesmo presa no elevador, o que lhe custou mais dois preciosos minutos. 

     Era uma noite fria de Novembro. O céu estava escuro como breu e o alcatrão da estrada, molhado; pouca gente se via na rua. Ao sair do prédio, Maria encolheu-se de frio e tapou-se bem tapada com o casaco da rua. Cheirava a gasolina e a alcatrão molhado. Nas paredes dos prédios brancos viam-se manchas de humidade. 

     Maria ainda andou uns bons trezentos metros, num profundo vazio. Quase não se cruzou com ninguém e, com quem se cruzou, ninguém tinha um ar simpático. O seu Alfa Romeu parecia estar tão longe. E ela andou, andou e andou. Estava quase com medo. 

     Vagueava pelas ruas, num escuro imenso, cheia de frio: quando expirava, saía uma mancha branca da sua boca (não, ela não  fumava; era, sim, uma mancha de vapor de água) . Ela andou, andou, andou… Por fim, já às 20h 40, chegou ao carro. 

[…]

Vasco S, 6A

O Mistério – II

     Honda Civic Sport

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     Maria não percebia, mas, para ela, o menino Pedro era “o seu menino” Pedro, nunca tinha tido condições financeiras assim por aí além; vivia no seu T1, comprado pelos seus pais que tentaram sempre não afastar Pedro das suas vidas. Eram uns pais muito ativos que sempre amaram muito os seus filhos.

     A irmã de Pedro decidira ir estudar para Londres, onde tirava o curso de Engenharia, a especializar-se em Barragens Hidroelétricas e era, como Pedro, uma criatura inteligente e responsável; Leonor tinha agora trinta anos; Leonor Pontes – Leonor Salgado Pontes – dava frequentemente notícias e já tinha dado ideia que o seu curso, que já caminhava para o fim, depois de três anos e pouco, corria mais que bem; dizia também que queria lá permanecer e tirar o mestrado, o que não agradava aos seus pais, não só pelas saudades, mas também a nível financeiro, porque eles não tinham como pagar; mas a mãe de Leonor e Pedro, a Srª Pontes, até já trabalhava ao fim de semana, para ter a certeza que nada faltaria à sua amada filha.

     O seu esposo, o Dr. Manuel, era a favor de não dar nada mais à filha; um homem que azedou com o tempo, ficou demasiado triste com a separação dos filhos; era um homem já de 57 anos, que estava de mal com o mundo; no seu caso, “velhaco” era sinónimo de “velho”; dizia que estava farto de tudo, andava deprimido.

     Leonor era uma mulher de armas que já quase ganhara o diploma de psicóloga. Esmerou-se para dar ao filho  um T1 e o tal Honda Civic característico de 28C4.    

   Pedro sempre fora tímido e calmo; astuto, não gostava de dar nas vistas. Estudava em Lisboa e tinha-lhe sido difícil a separação dos seus pais.

Vasco S, 6A